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ARTE

Pablo Picasso: genialidade artística e masculinidade tóxica

Cinquenta anos após sua morte, legado do pintor espanhol é ofuscado por acusações de misoginia e maus-tratos contra suas esposas, musas e amantes – divididas por ele entre ‘deusas e capachos’.

“Só há duas espécies de mulheres: as deusas e as capachos”: essa citação de Pablo Picasso diz muita coisa. E, de fato, a maioria de suas relações – sabe-se de 11 – passou por essa metamorfose. No início ele as endeusava, depois as tratava como escória. Duas delas, Marie Thérèse Walther e Jacqueline Roque, cometeram suicídio após a morte de Picasso.

E não é nenhuma surpresa que as críticas ao superstar da pintura do século 20 sejam cada vez maiores. “Eu acusaria Picasso de ser manipulador, de ter um viés sádico e de ter algum prazer em maltratar mulheres, fazendo a elas promessas e declarações de amor sem qualquer fundo de verdade”, comenta Ann-Kathrin Hahn, curadora do Museu Picasso de Münster, na Alemanha.

Pintura misógina

Picasso criou verdadeiros marcos da arte moderna com seus retratos de Oliver. Mas ele também a tratava mal, chegando a trancá-la na casa-ateliê no Bateau-Lavoir para impedi-la de posar para outros artistas.

Quando a relação acabou, ele a abandonou na pobreza enquanto iniciava uma nova aventura com Eva Gouel.

No livro Deusas e capachos – as mulheres e Picasso, a jornalista de arte Rose-Maria Gropp investigou as perspectivas das amantes do pintor, pesquisando em diários e outras fontes não publicadas.

Gropp considera a pintura icônica Démoiselles d’Avignon, uma obra importante da fase cubista de Picasso, como uma expressão do desprezo do pintor pelas mulheres.

“É simplesmente inconcebível pensar numa pintura tão catastrófica como Demoiselles d’Avignon, de 1907, sem agressões de seu criador. Não há como. Para mim, porém, também foi interessante como as cinco mulheres encurraladas nessa imagem em tamanho real devolvem justamente essa energia destrutiva”, comenta a jornalista. Para ela, isso significa que Picasso estava ciente do poder dessas mulheres.

Um reflexo da época?

Tal misoginia e desprezo pelas mulheres é também uma expressão daquela época – e nisso Picasso não estava sozinho. “Sua amizade com os poetas Apollinaire e Paul Éluard aponta semelhanças nesse respeito. Tanto Apollinaire quanto Éluard e Picasso são erotomaníacos e obcecados por sexo”, diz Müller.

Talvez isso também explique por que, independente da idade de Picasso, a maioria de suas novas esposas tinha menos de 30 anos quando eles se conheciam, e às vezes nem mesmo eram maiores de idade.

No mais tardar desde o movimento global #MeToo, Picasso passou a ser visto no mundo da arte como um macho obcecado pelo sucesso. Hoje, alguém como ele provavelmente seria descrito, sem pestanejar, como um exemplo de masculinidade tóxica.

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